Espelho, espelho meu, existe hoje alguém mais mal-humorada do que eu? Não, não responda! Eu não quero ouvir. Apenas preciso expor as razões que justificam o meu estado de espírito. E não me venha com piedade por eu estar assim. Se ousar dizer uma palavra de compaixão, eu o quebro em mil pedaços. Não preciso desse seu reflexo enfadonho que só faz me irritar. Que culpa tenho eu se não compactuo com a hipocrisia epidêmica do mundo? Eu não finjo, eu não minto, eu não faço de conta que sou feliz. E você? Não, não responda! Eu já sei.
Existem muitas vantagens em ser ou estar mal-humorada: não preciso aguentar nenhum maçador nos meus ouvidos, não faço coisas de que não gosto, não ouço histórias infindas das quais não participei, não preciso aturar gente parva nem pessoas que falam sem parar, não rio da piada sem graça que aquele colega igualmente sem graça contou. Quando acordo muito cedo, não perco tempo respondendo "bom dia", pois quem me conhece, já sabe qual será a resposta: – O que é que tem de bom? E ainda: assumo a minha distimia pra não ficar exausta com intermináveis desculpas esfarrapadas.
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